segunda-feira, março 17, 2008

MEC e a má vida


Amanhã vou à faca mas já é tarde para fugir. [...] Mas como é que eu dei cabo da anca, um rapaz tão novo e sadio? [...] Foi a má vida e o bem que ela me soube. [...] Disse-me o médico que me diagnosticou a necrose asséptica da cabeça do fémur que há quatro causas para o sangue deixar de subir ao topo da perna e matar à sede a dobradiça da anca: beber de mais; fumar muito; abusar dos corticosteróides e praticar obsessivamente o mergulho em profundidade.
Este último disparate juro que nunca pratiquei na vida. Nem sei o que seria a minha anca hoje se eu tivesse sido aliciado por esse lamentável vício subaquático. Mas os outros três, confesso, foram-me vagamente familiares, em certa época da minha vida, vulgarmente conhecida por “enquanto pude”.
Nos anos que se vive, espera-se 20 anos para começar a viver; vive-se 20 anos e depois passam-se os 40 anos que restam a pagar a conta dos 20 que se viveu.


(excerto da crónica do Público da passada quinta-feira, 13 de Março)

3 comentários:

PAC disse...

Este homem é um sinhore carago! Um sinhore! (se bem que aquele tique da lingua irrita um pouco)

Maura disse...

É, não é? Pá, até o tique da língua é lindo!
Pena que não tenho seguido todas as crónicas no Público, nem sei como vai a anca dele...

Lucia disse...

No cabeleireiro, quando estava à espera para a depilação, li algumas crónicas de António Lobo Antunes e Gonçalo M. Tavares que sairam na Visão. Excelentes! A seguir nem senti dor.