quinta-feira, novembro 27, 2008

Manifesto Anti-Montez

Os apreciadores de música e de concertos que consentem encher os bolsos ao Montez são apreciadores que nunca o foram. São uma cáfila de indigentes, de indignos, de cegos e de surdos! São um rebanho de vendidos e só podem parir abaixo de zero!

Abaixo estes pseudo-apreciadores de música!

O Montez pode já nos ter proporcionado variadíssimas oportunidades de assistir a muito bons concertos de excelsas bandas e músicos, mas neste momento passou das marcas ao querer encher o bandulho com um festival de música para concubinos da ignorância e da falta de amor à arte que é a música!

O Montez não precisa de se disfarçar para ser salteador, basta organizar festivais como o Super Bock em Stock. Aliás, “stock” é um termo que associo ao capitalismo e é preciso o Montez ter muito cara de pau e ser um gatuno para ainda pôr um nome destes a um festival que só pode servir para lhe dar pilim e não como um evento tendo em vista cumprir a sua função que é dar música a quem a queira apreciar ao vivo com condições mínimas. (Ah pois, o nome é por causa do programa de rádio e não sei quê! Claro!) Ora, parece-me que o formato do SBES não oferece condições ao público para que essa desejada fruição da música se faça, pior ainda, nem sequer encara os músicos como artistas que vêm apresentar o seu trabalho, mas sim como grelhadores de hamburguers de cadeias de fast-food.

Lixe-se o Montez, lixe-se!
PIM!

O Montez vomita concertos e muito bem! Mas desta vez vai vomitar um festival de rápida digestão que lhe vomitará dinheiro fácil, tão fácil quanto o público que lá for é fácil de endrominar.

O Montez envergonha-me por ser português e nos querer equiparar aos texanos. Toda a gente sabe que os americanos em geral e os texanos em particular são burros, mas o Montez quer fazer de nós, portugueses, jumentos ao copiar o formato de um festival de Austin que até deve ser fabuloso. Porém, a qualidade de um festival com alguns anos no Texas não é argumento suficiente para copiarmos o seu formato na nossa pacata e repleta de gente que gosta de boa música ao vivo Lisboa!

Pensem comigo – para além do facto de isto não ser o Texas, mesmo que até tivéssemos afinidades, não percebo qual o mérito em copiar um produto final que lá demorou alguns anos a crescer até se transformar no que é. Não sei se os texanos (todos juntos) são tão estúpidos quanto o Montez ao ponto de agendarem várias bandas a tocar ao mesmo tempo nos primórdios do festival – ou se calhar são, não sei, mas prefiro acreditar que, com a afluência do público e de bandas a quererem tocar ao longo dos anos, os concertos tivessem que se ir sobrepondo à medida que esta exigência surgia. Porém, a besta do Montez faz de nós energúmenos ao dar-nos a maravilhosa oportunidade de termos 4 ou 5 bandas a tocar em simultâneo... bandas essas que provavelmente gostaríamos muito de ver mas se calhar não conseguiremos porque não somos omnipresentes... ou somos?

Sim, sim, já sei, temos que fazer opções na vida! Muito bem, sei disso! Mas, primeiro o Montez não é ninguém para me dar lições de vida (sabe-se lá de onde virá esta mania); segundo, até podemos fazer as nossas opções... o problema é que o Montez não nos garante que a sala onde queremos ver os nossos eleitos artistas tenha espaço para nós quando lá chegarmos, coisa que me parece que irá acontecer com alguma facilidade!

Calma! Temos um dispositivo de oferta que nos vai dizer as salas que estão a esgotar a lotação! Yupiii, então não há problema, posso não conseguir ver as bandas, mas trago para casa um dispositivo muito útil para enfiar algures no Montez se me cruzar com ele.

O Montez é a vergonha da indústria musical portuguesa!

E ainda há quem lhe agradeça por trazer cá certos músicos!

Lixe-se o Montez, lixe-se! PIM!

Nem os músicos deviam ficar contentes com o convite do Montez. Será que sabem ao que vêm? Se eu fosse apresentar um trabalho meu ao vivo gostaria de o fazer sem limites de horários tão rígidos e ridículos de apertados! E gostaria também de sentir que o público estava ali para me ver descontraidamente sem estar em stress a pensar que tem de se fazer a caminho da outra sala para ver o final do concerto da outra banda...

Relaxem! Já passamos o dia-a-dia a correr – ainda temos que o fazer nas horas de lazer em que é suposto usufruirmos sem stress da actividade que escolhemos para alimentar a alma?

(Já nem quero falar da hipótese de virem todos tocar ao monte durante a semana porque o Montez conseguiu um voo em saldos onde cabem todos, passando-se o mesmo com o hotel! Atenção que eu até sou defensora de concertos durante os dias úteis, não está aí a minha indignação!)

Sou eu que estou a ficar ultrapassada e a transformar-me numa espécie de velha do Restelo ou de facto esta ideia do SBES é mesmo merdosa?

É que posso dar-vos mais factores contra esta trampa de ideia!

Vejamos o preço - € 40 por um festival de 2 dias (noites entre as 21h e as 0h15) com mais de 20 bandas – assim de repente não parece mau de todo! Acordem! Vão ver o programa... Quantas bandas acham que conseguirão ver? Quantas bandas acham que conseguirão ver na (curta) totalidade? Quantas bandas que gostariam de ver efectivamente conseguirão ver? É possível que a resposta de muitos de voz seja igual para todas estas perguntas – “Nenhuma!” – Ao que os crentes e positivistas (eu diria, os tais não apreciadores de música) dirão “Não há crise, há copos, convívio e outras bandas boas para ver mesmo que não consigamos aceder às nossas escolhas” – Muito bem! Só me parece que por € 40 é estarem a roubar-me mais que a Euribor e o gasóleo e toda a conjuntura económica dos últimos meses.

Encham-lhe as algibeiras e passem a ter só concertos fast-listening (analogia com fast-food).

Posto isto, só posso dizer:

Foda-se o Montez, foda-se!
PIM!


É claro para os mais inteligentes e atentos (não me refiro a muitos dos “apreciadores de música” que por aí andam) que este texto foi inspiradíssimo no Manifesto Anti-Dantas de José de Almada-Negreiros. Em itálico encontram-se expressões que retirei do citado Manifesto, não sendo minha intenção plagiá-lo nem chegar perto de tamanha arte literária. Como tal, aconselho a (re)leitura deste texto futurista para que melhor percebem o meu ódio/desprezo (se é que ambos os sentimentos possam ser simultâneos) por este Luís Montez.

Não resisto a retirar dois outros excertos do Manifesto Anti-Dantas, alterando apenas o meu objecto de escárnio para Montez:

E fique sabendo o Montez que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
(...)
Portugal que com homens deste género conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos!
Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseiado!



Bons concertos!

segunda-feira, novembro 17, 2008

1.º aniversário

Este blog faz 1 ano!
Para comemorar lembrei-me de uma música ainda mais depressiva que o clássico Parabéns!

terça-feira, novembro 04, 2008

A Noite do Vampiro

Filme atrasado para a noite de Halloween...

domingo, novembro 02, 2008

Excluídos

Berlim - Memorial às vítimas do Holocausto

«Quem comete um erro é excluído; é fechado dentro de uma caixa. Quem está fora vê apenas a caixa. Mas quem está fechado, excluído, consegue ver cá para fora. Vê tudo, vê-nos a todos.

Em cada compartimento há dezenas de caixas. Milhares de caixas por todo o lado. A maior parte delas vazia. Outras têm lá dentro pessoas excluídas. Ninguém sabe quais as caixas que têm pesoas.

As caixas são tantas que ninguém lhes dá importância. Pode estar lá uma pessoa, até a que amas, mas nem olhas. Já não produzem efeito. Passas por elas centenas de vezes.»

Gonçalo M. Tavares, Jerusalém

Não interpretem o texto influenciados pela imagem, foi só uma das minhas associações.